30.10.08

Da semiótica e do espanto

"O homem, para perceber o mundo, dá sentido às coisas. Senão, a gente passaria a vida tomando susto."

(SANTAELLA, Lucia. Palestra "A relevância da Semiótica para a visualidade e o design." Bem ali na rua de Lagarto, na Unit do Centro. Aracaju, 2008.)

27.10.08

Poética sem açúcar

— Tem poema que parece bolo de aniversário, de tão cheio de informação, como o bolo tem as camadas, o recheio, a cobertura...

— Ah... mas bolo é bom.

— Mas não é poema.

23.10.08

Dia de Maria

La vie

"Você já pensou que na vida só tem duas coisas?
Casamento e nascimento.
O resto é o tempo que passa no meio."

et

les choses

"Essas coisas que dão um negócio não deviam mais existir."

20.10.08

Carmem, Cecília e Carolina

"Sobre um poema quase nunca há nada a dizer. Deseja-se que seja amado, se for possível."

(Então, quando eu crescer, quero ser poema.)

xxx

— Não se faça de desentendida.
— Eu não me faço. Já nasci feita.

17.10.08

Mais oficina

Soneto felino

“el ingeniero quiere ser poeta,/la mosca estudia para golondrina,/el poeta trata de imitar la mosca,/pero el gato /quiere ser sólo gato/y todo gato es gato/desde bigote a cola”(Neruda)

O poeta diz: tudo é incompleto,
Quase todo animal é imperfeito.
Só felino, se a gente olhar direito,
É feliz, por saber que é o predileto.

Todo mundo quer ser um outro alguém.
Já o gato só quer ser ele mesmo,
Os dourados olhos vagando a esmo,
Toda criatura parece aquém.

De puro orgulho, ele mal em si cabe.
Até o mais vagabundo, marcha sobre
O chão, como se dele fosse indigno.

Mesmo o velho bardo, que tudo sabe,
Vê na pequena esfinge um bicho nobre,
Não no consegue definir em signo.
xxx

Cantiga de espera
Quer'eu em maneira de proençal fazer agora un cantar d'amor
(D. Dinis)
Tu, de olhar terno e fugaz,
Tu, que tens vários nomes,
Meu cuidar consomes, por nada dizer
Todos os ardis, tantas cousas fiz
Sequer consigo tua voz esquecer.
Por que desvias teus olhos, amigo,
Se viver sem eles não consigo?
A luz da aurora em vão me diz
Que não é chegada a hora de
Findar a silenciosa espera
Em que cumprirás as juras que
Não fizeste, mas que a mi fariam feliz.
Por que desvias teus olhos, amigo,
Se viver sem eles não consigo?
Tua ausência faz-me órfã
Deixa-me aleijada a alma e
O peito, senhor meu, tantos ais
No entanto, mentre eu vivo, a idéia
De mui esperar-te a mim apraz.
Por que desvias teus olhos, amigo,
Se viver sem eles não consigo?

13.10.08

Orissá

(ou o sincretismo no almoço de sábado)


"— Eu ainda não sei quem é meu orixá."
"— Pelo seu jeito, você é filha de Camões."

6.10.08

A corrupção em fase de rascunho – devaneio

Carol diz:
possso anotar seus pensamentos?

Carol diz:
vou postar no blogue

Carol diz:

"fui da extrema esquerda;
hoje sonho é ser rica e sonegar impostos"

Nívia diz:
hahahahahaha

Nívia diz:
pode, pode

Nívia diz:
mas se eu for rica, você apaga

Nívia diz:
pra não me prejudicar

Carol diz:
certo

Carol diz:
mas aí você molha minha mão, né?

Nívia diz:
claro

Nívia diz:
eu sou uma rica do coração cheio de amor

Idiossincrasias na festa da democracia

(Ontem de manhã, em frente ao colégio onde eu voto.)

Da nostalgia:

“Ai, este colégio me traz tantas lembranças! Foi aqui que eu comecei a lamber mictórios. A melhor coisa era o mijo dos novatos... Hoje em dia não tem mais graça. Deram pra macular a urina com sabão, vê se pode! Por isso que agora eu prefiro direto da fonte.”

Um bom motivo para ser mesário:

“É tão bom trabalhar com gente! Adoro. Várias personalidades, vários bafos diferentes... eu gosto. Já me acostumei. Só não gosto dessa formalidade de educação demais. Pra que dizer bom dia? Eu acho falso, sei lá; dizer bom dia é a coisa mais antivaginal que existe, só serve pra tapar buraco. Detesto.”

Da saturação:

“Se há três coisas de que eu não agüento mais assistir a novas versões, elas são Jesus, Peter Pan e Papai Noel.”

xxx

E da etimologia (do besteirol):

Democracia: A Democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com o Demo, direta ou indiretamente, por meio de representantes do inferno — forma mais usual. Em uma democracia, a má decisão de alguns afeta a todos os outros, e não se pode reclamar, porque ninguém sabe de quem é a culpa; o voto é secreto. Isto se dá para que você possa ter uma posição política em público, mas na surdina vote em outra pessoa. O candidato que vence representa a todos, mesmo os que são contra a sua política. E todos têm de pagar impostos e acatar as decisões; ou então reclamar, porque os resignados são alienados. Mas isso não quer dizer que você vá ser ouvido. A liberdade é imprescindível em um sistema democrático. Você pode fazer e falar o que quiser, mas depois não reclame se amanhecer com a boca cheia de formiga. E outra coisa: vender o voto é crime, mesmo que seus filhos estejam passando fome. O voto no Brasil é obrigatório. Caso não fosse, a maioria das pessoas não escolheria ninguém, pois os candidatos todos são muito cheios de predicados. Predicados nominais, pouco lisongeiros. Tudo isso gera uma indecisão enorme. Principalmente em mim, uma libriana clássica, que não acredita em horóscopo.

xxx

Suposição:

Morrer até dá medo,
mas viver pra sempre deve ser muito ruim.
Por isso que inventaram a morte.
É que nem reciclagem.

Acho.