15.2.12

Imagem

Aqui em casa tem uma imagem, uma Sant'Ana muito antiga, mais velha do que eu e talvez do que você, toda feita de madeira, entalhada por algum cristão pouco crédulo.

Se ele cresse mesmo, não esculpia Nossa Senhora no colo de sua mãe em um pedaço reles de madeira, coisa morta e fibrosa, fadada ao destino que já hoje é futuro próximo. Pois que se encontra toda aerada a santa, por obra e graça daqueles que nela moram. Afinal, Deus também criou os cupins. Tais insetos isópteros, seres sociais, habitam a imagem já faz tempo. Vegetarianos (sic), e no entanto antropófagos (ou seriam santopófagos?), os minúsculos resistem contra as investidas de veneno que minha mãe usou diversas vezes, tentando salvar a peça de um fim trágico.

A implosão é silenciosa, de dentro pra fora. Não há santa que se mantenha avó de Cristo sem suas entranhas de madeira bruta. E dá uma pena danada ver que os cupins nem se dão conta da heresia que cometem, roendo as paredes da própria casa. Mas ao mesmo tempo, eu sinto, não sem algum prazer mórbido, que existe a vingança da madeira, que se deixa gastar, passando a não mais existir. Aí, senhor cupim: nem casa e nem casca.

Será mesmo uma imagem?

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