Soneto felino
“el ingeniero quiere ser poeta,/la mosca estudia para golondrina,/el poeta trata de imitar la mosca,/pero el gato /quiere ser sólo gato/y todo gato es gato/desde bigote a cola”(Neruda)
O poeta diz: tudo é incompleto,
Quase todo animal é imperfeito.
Só felino, se a gente olhar direito,
É feliz, por saber que é o predileto.
Todo mundo quer ser um outro alguém.
Já o gato só quer ser ele mesmo,
Os dourados olhos vagando a esmo,
Toda criatura parece aquém.
De puro orgulho, ele mal em si cabe.
Até o mais vagabundo, marcha sobre
O chão, como se dele fosse indigno.
Mesmo o velho bardo, que tudo sabe,
Vê na pequena esfinge um bicho nobre,
Não no consegue definir em signo.
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Cantiga de espera
Quer'eu em maneira de proençal fazer agora un cantar d'amor
(D. Dinis)
Tu, de olhar terno e fugaz,
Tu, que tens vários nomes,
Meu cuidar consomes, por nada dizer
Todos os ardis, tantas cousas fiz
Sequer consigo tua voz esquecer.
Por que desvias teus olhos, amigo,
Se viver sem eles não consigo?
A luz da aurora em vão me diz
Que não é chegada a hora de
Findar a silenciosa espera
Em que cumprirás as juras que
Não fizeste, mas que a mi fariam feliz.
Por que desvias teus olhos, amigo,
Se viver sem eles não consigo?
Tua ausência faz-me órfã
Deixa-me aleijada a alma e
O peito, senhor meu, tantos ais
No entanto, mentre eu vivo, a idéia
De mui esperar-te a mim apraz.
Por que desvias teus olhos, amigo,
Se viver sem eles não consigo?